A natureza repetitiva dos ciclos
Reflexões sobre o fim e um Ovelha Recomenda de melhores do ano.
Seja bem-vinde a mais um texto da newsletter Ovelha Azul - um reflexo (praticamente) quinzenal das vozes da minha cabeça.
O ano está acabando. Começo com um fato inquestionável porque o resto do texto é bastante subjetivo: o ano está acabando, e eu amo essa sensação. Estou aliviada.
Esse sentimento tem a ver com mazelas de 2023, mas também não tem. Sempre fui afeita a fins de ano, à desaceleração obrigatória, ao adiamento constante que tudo passa a sofrer - agora só ano que vem. Nos anos de mais produtividade, nos anos de frustração infinita, nos anos insossos, nos anos tristes, nos anos eufóricos, nos anos de conquistas e nos de perda também, dezembro sempre chega. Ainda bem.
Em uma sociedade inimiga do fim, que nos incentiva a deslizar pela vida sem atrito, o final chega para nos lembrar que tudo é ciclo. Lembrança também de que, mesmo que você não queira, o corpo sente o cansaço de existir um ano inteiro. Que o tempo passa inexorável, mesmo que a gente finja que não. Talvez seja bom aproveitar o final para pensar, e recomeçar o próximo ciclo bem.
Digo começar “bem” de forma subjetiva (existe outra?), porque muito não depende de nós. Precisamos de dinheiro, de tempo, de condições saudáveis, e eu sou muitas coisas mas não ingênua - um planjeamento de final de ano não conserta contextos. Mas o fim é a pausa, uma pequena morte, um momento que pode finalmente ter silêncio. Sem o barulho, podemos pensar um pouco melhor, e traçar futuros possíveis. Se eles derem certo ou não, o alívio agridoce é que eles terão seus finais de ano também.
Tenho noção de que nem todo mundo tem a mesma sensação que eu no final do ano. Espero que seja apenas uma questão de localização temporal - seus ciclos acabam em outros momentos -, e não de sequência ininterrupta. A vida é feita de ciclos, que na sua natureza repetitiva de começo, meio e fim, se tornam libertadores. Você merece pausas, finais e recomeços também.
Eu não sei como foi seu 2023, mas se você está lendo esse texto e acompanha o Ovelha Azul, pode acrescentar na conta de final de ano a minha gratidão pela sua companhia.
Obrigada <3
Por aqui entraremos em pausa, mas em meados de janeiro já devo estar de volta. De presente, uma OVELHA RECOMENDA extra gorda. Muito do que tá no #2023 eu já recomendei durante o ano? Sim.
Não é só a natureza do ciclo que é repetitiva kkkk
Ovelha Recomenda #Normal
Glen Martin Taylor é um artista visual que usa cerâmica como meio. Acompanho ele faz um tempo, e nunca tinha visto essa forma de criar com o material!
Textos de newsletter que li essa semana e não queria deixar passar.
Ovelha Recomenda #2023
Ia fazer uma lista de coisas lançadas em 2023 e outras que não são desse ano, mas que consumi nele. O texto ficou com o dobro do tamanho e o Substack começou a chiar, mas quem sabe no início do ano que vem não dou uma retomada. Ficamos com o que saiu para o mundo nesse em 2023 mesmo.
Livros
Li poucos livros lançados nesse ano. Meus dois favoritos foram de contos, por uma linda coincidência do destino.
Life Ceremony (Sayaka Murata): contos que desafiam o conceito de convencional - se a sociedade decidir que comer o corpo dos mortos é normal, ou que cabelos dão um ótimo suéter, quem seriamos nós pra dizer não?? Ainda sem tradução, mas assim que sair aviso aqui também.
Irmãs da Revolução (autoras diversas): Mistura sci-fi, perspectiva feminista, autoras fodas do passado e presente, e você tem o que?? Esse livro <3
Séries
Noto uma predileção pelo absurdo… deve ser pra refletir sobre esse mundo doido. Já com os streamings respectivos, porque não sou nada se não prestativa.
Enxame (Prime Video): Surreal e esquisita. Assista se quiser ficar olhando pra tela com o cenho franzido falando QUÊ?? É sobre uma super fã de uma equivalente fictícia da Beyoncé . (Resenha)
Treta (Netflix): Começa com uma briga de trânsito, segue para uma treta colossal entre uma chefe de família e um faz-tudo sem grana, e escala de formas cada vez mais absurdas. (Resenha)
Eu Sou de Virgem (Prime Video): A difículdade que um jovem negro de quatro metros tem de se encaixar na sociedade. Metáfora nada sutil, afrossurealismo topster demais. (Resenha)
A Queda da Casa Usher (Netflix): Paranoia adaptada de contos do Edgar Allan Poe, nas mãos do sempre incrível Mike Flanagan.
One Piece (Netflix): Adaptação do mangá e anime homônimos. Sei lá, simplesmente divertido e fofo.
Filmes
Ano do lançamento considerando BR! Tentei curar uma lista menos mainstream, porque tem 87348729472 listas rodando por aí e quero trazer variedade kkk
Medusa Deluxe (Thomas Hardiman): Não é incrível, mas é envolvente, editado no estilo de um take só. Um mistério de assassinato que se passa numa competição de cabelereiros, disponível no Mubi.
Aftersun (Charlotte Wells): recortes das férias que um pai de trinta anos passa com a filha de onze. Sensível, um ritmo cadenciado, eu amei. Mais devagar, não sei se todo mundo vai amar. Tem no Mubi!
Banshees de Inisherin (Martin McDonagh): Um cara decide que não quer ser mais relação com seu melhor amigo, na Irlanda do século passado. Esquisito e envolvente. Disponível no Star+.
Bottoms (Emma Seligman): O nome do filme em português é Clube da Luta de Meninas kkk Não é executado perfeitamente, mas é fora da caixinha e com diálogos e atuações muito bons… vejam kkkk Tá no Prime Video.
Os Cinco Diabos (Léa Mysius): Cara, não sei explicar porque, mas alugou um triplex na minha cabeça. A filha de um casal consegue viajar no tempo através dos cheiros (?). Enfim, disponível no Mubi.
Animação
Foi um bom ano de animações e sinto que estou deixando coisa de fora, mas me ative as que pelo menos comecei (no caso de séries) ou terminei (filme).
Homem Aranha Através do Aranhaverso (Joaquim Dos Santos, Justin K. Thompson, Kemp Powers): O estilo dessa animação é tudo, sou obcecada. Fiz até resenha, e o filme tá disponível pra ver no HBO Max.
Scott Pilgrim Takes Off (vários): Sou fã do quadrinho do Bryan Lee O’Malley, do filme que o Edgar Wright fez baseado nele, e agora estou assistindo essa série de animação no Netflix. Terminei? Ainda não. Recomendo? Demais - mudanças na trama tão tornando essa experiência muito maior do que só nostalgia.
Nimona (Troy Quane, Nick Bruno): Que surpresa deliciosa do Netflix. Baseado em um quadrinho, mistura um cenário medieval com hi-tech. Nimona é uma metamorfa, e um dos personagens mais carismáticos que vi nos últimos tempos.
Big Mouth (Nick Kroll, Andrew Goldberg, Mark Levin, Jennifer Flackett): Foi a sétima temporada na Netflix, e apesar de eu entender que esse desenho não é pra todos, quis prestigiar. Puberdade e adolescência retratada através de imagens como o monstro dos hormônios, o mosquito da ansiedade, a pedra da lógica. Eu amo o cuidado e ao mesmo tempo caos dessa série. (Resenha da sexta temporada)
Quadrinhos
Apenas uma indicação, mas feita com muito gosto!
Livro dos Pássaros (Lark): Um passarinho decide que a vida selvagem não basta e vai trabalhar num escritório em que o chefe é um gato. O ridículo da vida do trabalhador + o estilo cômico da Lark são perfeitos.
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