Escrever para preencher

Ou pra esvaziar

Seja bem-vinde a mais um texto da newsletter Ovelha Azul - um reflexo (praticamente) quinzenal das vozes da minha cabeça.

Ei! Me ajuda a fazer o planejamento de 2025??

Responde essa pesquisa sobre quem me lê - é anônima e rapidinho, menos de dois minutos.

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O texto abaixo faz parte do amigo secreto de textos promovido pelo grupo Newsletters BR. A ideia é o autor ou autora escreva uma edição dedicada ao seu colega sorteado(a) - já rolaram duas edições, compiladas no Texto & o Tempo .

Não se preocupe - a carta é para a pessoa que sorteei, mas pra você que lê Ovelha Azul também <3

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Meu maior medo participando de um amigo oculto é sortear alguém que não conheço muito bem. A minha sorte hoje é que, num amigo secreto de escrita, existe um caminho rápido para a intimidade: a leitura. Quem escreve deixa pedaços de si, e lendo a newsletter da minha sorteada, vou juntando as migalhas para entender meu remetente.

“Escrever para esvaziar. Escrever para preencher.”, coloca minha amiga no primeiro post. Leio isso pensando em todas as vezes que me debrucei num tema para pesquisa, ou que escrevi chorando um diário, ou que criei ficção num quarto fechado. Escrever, invariavelmente, serve para encher e esvaziar o caneco: escrevemos para entender.

A

Patricia ॐ

escreve a

Uma com a Terra

como quem escreve cartas: coloca local, data e saudação, pegando o leitor ou leitora pela mão para se sentar, talvez com um café ou um chá, como uma amiga de quem não recebemos notícia faz um tempo. Em um mundo sem atrito e viciado em conveniência, a intimidade de uma carta escrita em ritmo humana é subversiva.

Heloisa Marques (@heloisamarques_)

Quanto a nós, ou buscamos estabelecer ritmos que respeitem nossa natureza - interna e externa - ou… nem sei. Por agora, é sair para fora e olhar para o céu.

Patrícia de Souza, #6 Árvores

Patrícia escreve muito diferente do que eu escrevo, tanto em forma quanto em substância. Suas cartas relatam suas reflexões e jornadas que se alinham com sua grande questão existencial - por quê? Por que estamos aqui? Ela busca as respostas na natureza e na conexão espiritual, relatando o que estuda e o seu tempo na comunidade Findhorn, situada em terras escocesas. “Intencional, ecológica e espiritual”, como ela a descreveu, e decisiva na sua jornada.

Ela fala sobre Silêncio como forma de liberdade, do luto e da transcendência, do entender solitude e solidão. São pautas e temas inescapáveis para aqualquer pessoa que respire, e eu admiro sua forma de colocar suas reflexões mais profundas no papel e convidar o outro para refletir também. Ler seus textos é inevitavelmente contemplativo, independente de como você se sente com relação à espiritualidade.

No hábito jornalístico, pensei em referenciar aqui estudos e livros que falam da solidão na atualidade, mas vou me poupar dos dados e fontes, porque isso é uma carta e não uma reportagem, mas observo como é um tema recorrente, tenho conversado com amigas sobre solidão e, certamente, é uma condição da sociedade moderna que ainda precisa ser refletida e entendida.

Patrícia de Souza, #5 Sozinha

2024 - Heloisa Marques (@heloisamarques_)

Consumimos informação num fluxo constante de conteúdo, e me alegra quem tenta criar longe dessa lógica, de dentro pra fora. É para os corajosos escrever cartas genuínas que serão lidas por vários alguéns.

Uma com a Terra

se descreve como “cartas aleatórias do Ser buscante”, e eu creio que todos de nós temos o ímpeto de buscar. Eu diria que o maior conselho que eu poderia dar e que as cartas que li também me dão é: busquem. Da forma que fizer sentido para vocês. Curiosidade e a sede de buscar são subversivos.

Feliz celebrações de fim de ano, Patrícia! E também para todos os leitores e leitoras, frequentes ou pontuais, da Ovelha Azul! Ano que vem estou de volta, com mais ensaios e outras brisas mais - imagino eu que no fim de janeiro.

Ovelha recomenda

• Os bordados da artista Heloisa Marques são de uma delicadeza poética que admiro demais!

• Terminei A Polícia da Memória, ficção da Yoko Ogawa sobre uma ilha em que desaparecem objetos e memórias, e recomendo demais a leitura.

• Também recomendo Na sala dos espelhos: Autoimagem em transe ou beleza e autenticidade como mercadoria na era dos likes & outras encenações do eu, ensaio em quadrinhos da Liv Strömquist. Honestamente, recomendo qualquer quadrinho dela.

• Quer uma lista de melhroes do ano? Vai no Prêmio Valekers Melhores do Ano 2024, votado pela comunidade de apoiadores da

  Aline Valek
  (recomendo, melhor grupo da internet)

• Textos que me pegaram nos últimos dias:

  • Até de repente #50, da

    fanny

  • Quando um terapeuta morre, da

    Paula Maria

  • A história improvisada do homem do meme “a vergonha da profissão”, por

    Marcos Candido

Que tal um livro de presente de natal???

Meu livro de contos, Museu de Pequenas Falhas de Caráter, está à venda na editora Mondru!

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